terça-feira, 29 de novembro de 2022

FRANCISCA CLOTILDE "A MULHER NA FAMÍLIA"

É no lar, santuário íntimo de seus mais puros afetos que a mulher deve ostentar verdadeiramente a bondade a ternura de seu coração, tornando-se o anjo da guarda do esposo e dos filhos e lhes inspirando o bem e a virtude.

A natureza dando à mulher uma constituição fraca e um temperamento nervoso não a destinou à vida da luta, no seio da sociedade, entregue às agitações e ao afã dos negócios; reservou-a como uma relíquia mimosa para a família, para aformosear este pequeno mundo intimo, onde ela tem de exercer sua benfazeja influência no tríplice papel de filha, esposa e mãe.

Com efeito, se ela ultrapassando o limite que lhe foi traçado por mãe sábia e previdente atirar-se ao torvelinho do mundo, entregando-se a vida tumultuaria que compete ao homem, gastará as forças e cairá extenuada sob o peso da difícil tarefa que empreendera, sem ter realizado o ideal que aspirara e conhecendo talvez muito tarde que não era este o seu papel.

flores que se desenvolvem na liberdade do campo; há outras, porém, que apenas nos limites de um jardim e cultivadas por mão hábil podem crescer e desabrochar.

A mulher assemelha-se a essas últimas flores, e no recinto da família, cercada dos cuidados dos entes que a idolatram, e por sua vez enchendo-os de desvelos e solicitude é que pode mostrar a exuberância de seu coração e a beleza de sua alma.

Houve, porém, mulheres que se imortalizaram por feitos gloriosos e que a história nos apresenta como verdadeiras heroínas.

Desde os mais remotos tempos, quando a humanidade no embrião da civilização lutava ainda com as trevas do obscurantismo, a mulher surgiu iluminada por um esplendor divino patenteando o poder e a força irresistível de sua fraqueza.

Todos os vultos femininos que admirarmos na história antiga podem ombrear com as heroínas da idade média e com as mulheres célebres da nossa época, nas quais a civilização imprimiu um beijo de luz.

Se Judith embebeu na garganta do opressor dos judeus o punhal homicida, Roland emaranhou-se na política para destronizar um rei pusilânime e aclarar a Franca com o sol da liberdade, e servindo-se do gládio de sua pena inspirada com ela acutilou o despotismo e a tirania.

Seria longo repetir os nomes dessas mulheres que se imortalizaram, mas não teremos entre nós outras heroínas iguais a essas que arrastadas pela força do gênio se atiraram na arena da luta por amor de uma ideia, ou pelo fanatismo de uma causa?

Sem sair da doce obscuridade do lar não poderá certamente a mulher figurar na história, ao lado do homem como o protótipo do virtudes cívicas; porém que melhor celebridade para ela do que reviver eternamente no coração de seus filhos, adorada, reverenciada como um modelo de virtudes e boas qualidades?

Que melhor glória do que educar futuros cidadãos que saibam honrar a pátria e engrandecê-la com o mérito que sempre resulta das boas ações?

Na família é a mulher a companheira do homem, a educadora dos filhos.

Portanto não deve esquecer nunca que dela dependem a felicidade e o futuro das tenras criaturas que nela se revêem como em um espelho que deve refletir as mais belas e puras imagens; que lhe cumpre velar incessantemente para desenvolver o bem naqueles corações ingênuos e inexperientes, procurando todos os meios para depositar neles o gérmen que deverá produzir no decurso da vida bons e salutares frutos.

Uma mãe na alma dos filhos com uma perspicácia, verdadeiramente admirável.

Uma língua que balbucia, uma face que cora, um olhar que se perturba são para ela indícios de uma má ação que é preciso conhecer e cuja repetição deve ser evitada para que não traga serias consequências.

Então, com a doçura que ela possui, com essa previdência quase divina, segue os passos vacilantes do filho e cercando-o de uma prudente vigilância consegue desviá-lo do mal.

O menino molda-se à sua vontade, à sua influência, e guiado pelo amor solícito e desvelado que ela lhe dedica cresce nas melhores disposições, e tornando-se homem, se encontra na esposa a mesma ternura prossegue na senda do bem, da qual o poderão afastar o turbilhão de paixões desencadeadas e furiosas.

Ele pode resvalar uma vez, mas é sustido à borda do abismo por uma angélica e carinhosa mão. Retrocede, e vai buscar no asilo que abandonou um instante o esquecimento de sua loucura.

A mulher digna de sua nobre missão transforma o lar em um paraíso e consegue com um sorriso desviar dele todas as aflições, desterrar todas as tristezas.

Com uma acenada economia mantém o equilíbrio dos negócios domésticos, e coloca as despesas ao nível dos meios de que o marido pode dispor.

Desdenha os ornatos frívolos, e faz das boas maneiras e das graças que dá a educação a par da amabilidade, o seu principal adorno.

Encarrega-se de instruir o espírito dos filhos, e para isso deve possuir uma boa soma de conhecimentos úteis e uma instrução aprimorada.

Nos agradáveis serões familiares entretém com os dotes de sua inteligência o prazer e a união, evitando assim que o marido e os filhos vão procurar freqüentemente em outra parte as distrações que podem ter ao lado dela, e em um delicioso conchego solidifica o edifício de sua felicidade, e estreita cada vez mais os laços formados pelo sangue e pelo amor.

Não quero dizer com isto que ela se abstenha de frequentar a sociedade e que se encerre em casa, o que seria monótono e fastidioso.

Deve pelo contrário cultivar boas relações, tendo, porém, o máximo cuidado em escolhê-las, porque assim como uma amiga sincera é um tesouro de raro valor, também uma amiga fingida é uma serpente que mais cedo ou mais tarde inocula o veneno de sua alma naqueles com quem convive.

A boa esposa auxilia em todas as ocasiões com prudentes conselhos o companheiro de sua vida, e nunca o inibe de tornar-se útil á sociedade e a seus semelhantes por um exagerado egoísmo e um excessivo afeto mal entendido.

É ela a primeira a dizer-lhe o que deve fazer, e tornar fácil o que lhe parecia difícil, a compartilhar as decepções e prazeres que lhe sobrevenham nas alternativas da vida, sendo sempre a amiga desvelada e carinhosa pronta a derramar gota a gota o amor que se alberga no seu coração sobre a existência daquele a quem ligou a sua.

Não será mil vezes mais glorioso desempenhá-lo e fazer da criança um homem útil à pátria e à família do que sentar-se nos bancos de academias em busca de um pergaminho, ou acompanhar os vaivéns da política, duende fatal que deve amedrontar até os animais varonis?

Não será mais proveitoso para a mulher entreter-se horas e horas a cuidar das lides domésticas e a velar pelo bem estar da família do que entregar-se ao desempenho de cargos públicos, nos quais gasta a saúde e aniquila o espírito?

Longe vai felizmente a era obscura em que ela agrilhoada ao mais cruel preconceito e sob o jugo de uma lei bárbara era uma escrava, um simples objeto de luxo para o homem.

Hoje existe por si mesma, conhece seus deveres, pode dispor de luzes suficientes para não se perder na noite da ignorância, e fazendo do lar o seu mundo, concentrando na família as suas mais caras aspirações viverá feliz e fará a felicidade dos outros.

Educai, pois, a mulher, ajuntai aos dotes naturais que a embelezam os encantos de um espírito cultivado, avigorai-lhe os bons sentimentos, tornai-a enfim digna de educar os filhos e prepará-los para a vida completa, e ela será um diamante de inexcedível valor, a lâmpada maravilhosa a espargir luz em torno do lar, a fonte de onde dimanarão a prosperidade e a ventura de família.

 

Quinzena, N. 5 e 6. Fortaleza, 15 de Março de 1887 p. 40 e  30 de Março  1887, pp. 47-48.


quarta-feira, 19 de outubro de 2022

domingo, 6 de março de 2022

FRANCISCA CLOTILDE: A EDUCADORA

 O CEARENSE

1882 - Nomeação FC para  segunda cadeira do sexo feminino Fortaleza - 09 de junho http://memoria.bn.br/DocReader/709506/14029

1883 - Exames Escola  sala regida pela professora Francisca Clotilde - e examinadora na ao lado de Elvira Pinho escola Francisca Vasconselos Cavalcante -  http://memoria.bn.br/docreader/709506/15748

1883 - Pedindo para ser admitida nos exames de francês e português que se estão procedendo no Lyceu desta capital - http://memoria.bn.br/docreader/709506/15778

1884 - FC aprovada com distinção em concurso realização em exigência da Lei provincial - - http://memoria.bn.br/DocReader/709506/16086 - 

1885 (05 Dez) - FC participando de Comissão Examinadora na segunda escola mista dirigida por dona Francisca de Vasconselos - http://memoria.bn.br/DocReader/709506/17974

1887 - Apologia a D. Francisca Clotilde por I. G. do Rêgo In: Diário da Bahia 08 de Out. - http://memoria.bn.br/docreader/709506/19624

1890 (07 Mar.) - FC na Direção do curso anexo na Escola Normal - 1:200$000 (um conto e duzentos mil réis). - http://memoria.bn.br/DocReader/709506/22354


A CONSTITUIÇÃO

1888 - Banca - Examinadora Massapê - http://memoria.bn.br/docreader/235334/4900

1889 - Junho - Noções de Arithmética - http://memoria.bn.br/docreader/235334/6119

1889  (10 Jul.) - Aniversário José de Barcelos - Homenagem de FC e outros http://memoria.bn.br/docreader/235334/6163

 

O LIBERTADOR

1883 (22 Set.) - Bazar pelas Escolas Noturnas - http://memoria.bn.br/docreader/229865/1429

1883 (04 Out.) - Poema Evangelina - http://memoria.bn.br/docreader/229865/1469

1884 (20 Mar.) - Anjos do Quadro de Luz - http://memoria.bn.br/docreader/229865/1181

1884 (20 Mar.) - Exame para o magistério - http://memoria.bn.br/docreader/229865/1181

1884 (25 de Mar.) - Acróstico O CEARÁ É LIVRE  - Aos Libertadores - http://memoria.bn.br/docreader/229865/137

1884 (03 de Abr) - Actos Oficiais - professora efetiva - segundo a disposição do Art artigo 5* da Lei provincial N* 2058 de 1* de dezembro de 1883. -  http://memoria.bn.br/docreader/229865/150

1884 (05 Abr.) - Relação Senhoras que prestaram seu concurso aos Mendigos - http://memoria.bn.br/docreader/229865/155

1886 (14 Mai.) - Licença de 2 meses com ordenado - http://memoria.bn.br/docreader/229865/2155

1887 (12 Jan.) - Examinadora na Escola Normal - pedagogia e methodologia, juntamente com José Barcelos - http://memoria.bn.br/docreader/229865/2942


A GAZETILHA

1902 (20 Out.) - Felicitação dos filhos à D. Francisca Clotilde - http://memoria.bn.br/DocReader/770337/24

1902 - FC em Comissão Banca Examinadora em Calabouca -  http://memoria.bn.br/DocReader/770337/27

1905 (03 Mai.) Apresentação de um drama de F Clotilde em Caio Prado  - http://memoria.bn.br/DocReader/770337/38


A REPÚBLICA

1894 (12 Jun.) - Participação Festas Igreja do Patrocínio - http://memoria.bn.br/DocReader/801399/2227

1894 (20 Julho) Realização de Exames Escola regida pela professora Francisca Clotilde - http://memoria.bn.br/DocReader/801399/2351

1894 (10 Set.) - Felicitações à amiga Joanna Bella Ferreira - http://memoria.bn.br/DocReader/801399/2516

1894 (26 Set.)  - Apresentação da peça A ESCOLA NA ROÇA, no aniversário primeira dama do Estado - Mme. Bizerril Fontenelle - http://memoria.bn.br/DocReader/801399/2571

1894 (19 Out) - Felicitações a Francisca Clotilde pela data do seu aniversário. http://memoria.bn.br/DocReader/801399/2649

1894 (20 Out) - Felicitações em Versos por Serafina Pontes, pelo aluno Humberto Monte e por Alberto Dorgewal - http://memoria.bn.br/DocReader/801399/2653

1894 (10 Dez.) - Examinadora no Externato Nossa Senhora do Carmo - http://memoria.bn.br/DocReader/801399/2789

1895 (04 Jan) - Collegio Santa Clotilde, aulas de Francês -  http://memoria.bn.br/DocReader/801399/2864

1895 - (05 Jan.) Poema Judith à D. Balbina  A. dos Santos - http://memoria.bn.br/DocReader/801399/2929

1895 - Fundação do Externato Santa Clotilde aos 10 de Janeiro de 1891 - http://memoria.bn.br/DocReader/801399/3236

1895  (28 Jun) - Francisca Clotilde em A Federação - http://memoria.bn.br/DocReader/801399/3263

1895 - (16 Jul) -  Congresso de Ciências e Práticas - Doação de 20 vol. de Noções de Arithmetica - http://memoria.bn.br/DocReader/801399/3311

1895 (02 Set) Suspensão das aulas do Colégio Santa Clotilde por tratamento saúde - http://memoria.bn.br/DocReader/801399/3467

1895 - (17 Out.) - Reabertura do Colégio Santa Clotilde - http://memoria.bn.br/DocReader/801399/3611

1895 (18 Out.) Notícias de publicação do conto O DIÁLOGO de FC em revista A MADRUGADA, Lisboa - http://memoria.bn.br/DocReader/801399/3627

1895 (19 de Out) - Apresentação da peça/drama A FILHA DE HERODES, de autoria de FC -  http://memoria.bn.br/DocReader/801399/3631 

1895 (19 Out.) - Felicitações a Dona Francisca Clotilde pelo seu aniversário - http://memoria.bn.br/DocReader/801399/3632

1895 (21 Nov) Notícias de Participação do alunado do Colégio Santa Clotilde na Marcha Cívica de 15 de Novembro - http://memoria.bn.br/DocReader/801399/3715

1895 - (Nov) - Particípe Comissão Examinadora Partheneu Cearense - http://memoria.bn.br/DocReader/801399/3719

1896 (11 Fev) - Adiamento abertura (ano letivo) aulas Colégio Santa Clotilde, e, que e desta feita, não funcionará o  curso primário - http://memoria.bn.br/DocReader/801399/3909

1896 (11 Maio) - Conto OS ESPINHOS DO AMOR -  http://memoria.bn.br/DocReader/801399/4193

1897  (02 Jan) - FC saudando A República pela chegada do Ano Novo (de Acarape) - http://memoria.bn.br/DocReader/801399/4785

1897 (02 Abril) - Apologia a Francisca Clotilde por Dorgeval Demello e anúncio do seu livro de CONTOS - http://memoria.bn.br/DocReader/801399/5034


A FEDERAÇÃO (MANAUS - AM)

1895 (19 Jan.) - Noticias sobre o livro de Contos - http://memoria.bn.br/DocReader/223573/109





1881 - Jose de Barcelos - Europa - http://memoria.bn.br/docreader/709506/15003


sábado, 2 de outubro de 2021

FRANCISCA CLOTILDE A EDUCAÇÃO MORAL DAS CRIANÇAS NA ESCOLA

 

FRANCISCA CLOTILDE


Francisca Clotilde nasceu em Tauá, CE aos 19 de Outubro de 1862. Faleceu em Aracati aos 08 de dezembro de 1935.

Fez as primeiras letras com a professora Ursulina Furtado na Vila de Baturité. Cedo demonstrou aptidões poéticas, antes de completar 15 anos teve poema publicado em tradicional Jornal da Capital da Província. Diplomou-se no Colégio Imaculada Conceição em Fortaleza.

Aos 20 anos tornou-se professora interina de escola anexa à Escola Normal. Aos 22 anos foi aprovada em concurso para referida escola (1884). 

Membro da Associação da Senhoras Libertadoras, Órgão do Movimento Abolicionista. Foi também participante do Centro Literário. Há quem diga que sua produção literária em jornais e revistas da época dariam volumes.

Criou em Fortaleza uma Escola Particular, denominada Escola Santa Clotilde (1891). Morou em Acarape, em Baturité e por último em Aracati (1908-1935), nessa última cidade fundou o Externato Santa Clotilde.

Autora de: Livro de Contos (1897), de Noções de Arithmetica (1889), também de um romance, A Divorciada (1902).

Pois bem, aqui trazemos a Crônica A EDUCAÇÃO MORAL DAS CRIANÇAS NA ESCOLA 

1.        A educação moral é a parte mais importante da missão da escola, porque forma o caráter, purifica os costumes, desenvolve os bons impulsos do coração e tem sobre a educação física e a intelectual uma incontestável superioridade.


2.          Quando a criança passa da família para a escola, trocando os inocentes brinquedos do lar pelas lides do estudo, é mister que a pessoa que vai desempenhar junto a ela as funções de preceptor guie com desvelo e sabedoria os seus primeiros passos através daquele mundo que lhe é inteiramente desconhecido.


3.     Até ali a tenra criancinha só conheceu a doçura das carícias maternas; mas ao completar 7 anos e às vezes mais cedo é arrancada à ledice de seus gentis folguedos e passa da tutela afetuosa de sua mãe para a do professor – uma entidade que ella não conhece e que por essa razão deve recear e temer.


4.      Desde que o primeiro sorriso desponta nos lábios da criança deve-se principiar a educá-la, disse-o um ilustrado sacerdote, e é à mãe que cumpre encarregar-se da primeira educação do filho e infiltrar-lhe no coração o gérmen do bem e as notas principiais do caráter.


5.       Dizem que Scott recebeu a primeira inclinação para a poesia por escutar as canções de sua mãe. Nas frases do notável moralista Smiles, a infância é como um espelho que no decurso da vida reflete as imagens que primeiro lhe foram apresentadas.


6.      O professor é encarregado de continuar a desenvolver os ensaios de educação feitos pelas crianças no lar, e no desempenho de tal cargo terá muitas vezes que lutar contra pequenos defeitos nascidos na exagerada indulgência de algumas mães, que deixam os filhos seguirem os impulsos da índole e os estouvamentos próprios da idade, sem refletirem nos graves inconvenientes que daí podem resultar.


7.      Se não possuir em alto grau a paciência e a constância, o professor desanimará ante esses obstáculos; mas escudado por essas duas grandes virtudes que lhes devam ornamentar a alma e fortalecê-lo nos momentos de desânimo, chegará a ter bom êxito e conseguirá afastar do coração dos seus pequenos discípulos os maus sentimentos que como plantas daninhas queriam ali deixar raízes.


8.      A época mais importante da vida, como disse Richter é a da infância, que quando a criança começa a modelar-se por aqueles com quem convive, por isso a influencia do primeiro professor excederá sempre a dos outros; portanto os pais devem ser cautelosos na escolha daquele que tem de continuar logo depois deles na educação moral e intelectual de seus filhos e nunca entregá-los a uma pessoa destituída de virtudes e incapaz de dar-lhes bons e salutares exemplos.


9.       Hoje que a escola já não é o pesadelo horroroso que assaltava o sono infantil, nem a prisão sombria onde se encerravam longas horas as louras criancinhas, hoje que a palmatória e os castigos vis e estúpidos foram abolidos como indignos da civilização e do adiamento de nossa sociedade, o menino considera o preceptor como um amigo a quem deve amar e venerar. É, pois, facílimo a este se aproveitar da influência de que goza entre aqueles que educa, para colher ótimos e profícuos resultados na sua nobre missão.


10.     A infância é meiga, propensa à ternura, sincera nas afeições, ávida de carinho. Habituada a ouvir desde o berço a voz melífua que a embalava com ternas canções e a receber suavíssimos beijos dessa providência humana que se chama mãe e que a cerca de desvelos e cuidados por toda parte, deve continuar a ver no preceptor aquele vulto simpático a quem ela se inclinava espontaneamente e com quem se entretinha horas inteiras expandindo seus graciosos pensamentos e satisfazendo sua inocente curiosidade.


11.       O professor deve empregar todos os meios para fazer-se amar pelas crianças. Assim tudo conseguirá delas, porque ninguém resiste ao amor; e uma vez certo da afeição de seus discípulos poderá aperfeiçoar-lhes os bons impulsos e tornar-lhes fáceis os deveres da escola.


12.         A religião e a moral - esses dois elementos indispensáveis para a formação do caráter podem ser infiltrados nos corações infantis da maneira mais simples.


13.          Um passeio à beira-mar, uma manhã de estio, uma flor que desabrocha, uma ave que canta, uma abelha que fabrica mel, uma borboleta que esvoaça podem trazer à criança a ideia do autor dessas cousas que tanto enlevam e arrebatam sua imaginação pueril, e o professor terá ensejo de auxiliar-lhe o espírito de observação, infundindo-lhe ao mesmo tempo o amor às ciências naturais.


14.         Quanto a instrução moral deve ser dada por meio de narrações singelas, historietas ao alcance das inteligências infantis, exercícios orais que deverão ser repetidos para ficarem bem impressos no espírito das crianças, para as quais o melhor compêndio de moral é o exemplo.


15.    Uma palavra, uma pergunta, qual quer incidente da vida escolar pode fornecer ao professor variados temas para essas lições.


16.       O amor dos pais, a união fraterna, o patriotismo, o respeito a velhice, a caridade, a benevolência, o amor à verdade e os demais deveres do aluno para consigo e para com os outros ser-lhe-hão cada vez mais gratos desde que os compreenda e se habitue a cumpri-los, avigorando os bons sentimentos pelo exemplo e conselhos que receber.


17.        O professor deve esforçar-se, sobretudo, para acostumar seus discípulos a fazerem o bem pelo bem e sem o interesse de prêmios que, longe de serem um estímulo, trazem sempre como funestas consequências a inveja, o orgulho e o ressentimento.


18.       O menino deve habituar-se a obedecer, a estudar, a ser afável e condescendente com os seus condiscípulos, a enxugar as lágrimas alheias, a repartir o pão com o mendigo, porque são esses os seus deveres e achará na sanção da consciência e melhor recompensa dos esforços que empregou para vencer a má índole, a preguiça, o egoísmo etc.

19.       Enfim, se o professor possuir qualidades morais elevadas e se à vocação juntar uma instrução completa e uma educação aprimorada concorrerá honrosamente para a formação do caráter de seus alunos e contribuirá para o desenvolvimento e progresso de sua pátria realizando a frase do grande Pestalozzi: “O futuro das nações está nas escolas”.


A Quinzena. Fortaleza CE, 15 de Março de 1887 - Fac-Símile pp 21 e 22 - Biblioteca da Academia Cearense de Letras Fortaleza CE.